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Escritório Online :: Artigos » Ensaios, Crônicas e Opiniões


Civismo: êta troço complicado

19/10/2003
 
Jorge Luiz Braga



Outro dia um funcionário público, ao ser empossado nas suas funções, o seu futuro chefe lhe pregou a seguinte “pegadinha”: para poder ser empossado, você deverá cantar todo o Hino Nacional; caso não o faça, a sua posse está suspensa. O funcionário, com a sala cheia de convidados, e que não sabia que iria lhe ser exigido cantar o nosso Hino, teria ficado ruborizado, e, mesmo engasgado, começou a cantar o que sabia da letra e música, rebuscando na memória, num esforço descomunal, os sons e imagens de quando o Hino era executado antes do início das partidas de futebol da Seleção Brasileira de Futebol, quando lá pelas tantas, como se imitando a maioria dos jogadores que ele estava naquele momento lembrando, deixou de prosseguir no cantarolar e, envergonhado, e quase em prantos, pois temia por não poder assumir o novo emprego, recebeu um “deixa pra lá” do seu então caudilho, que ainda lhe disse, em tom de gozação: “venha cá e assina logo esse Termo de Posse que você já é nosso colega”, o que fez com que o futuro novel empregado público respirasse fundo, se recompusesse, assinasse o documento, desse uma larga risada e só então começasse a abraçar a todos os presentes, tendo, ao se dar de braços com o seu já chefe, aduzido: “pô, você quase me matou, pois eu realmente não sei cantar todo o Hino Nacional, só uma parte, e só porque a gente ouve na TV em dia de jogo da Seleção”.

Vemos nos fatos atrás relatados, em primeiro lugar, além do absurdo de um brasileiro não saber o seu Hino Nacional, cuja motivação para aprender deveria ser o só fato de ser brasileiro, como observamos, por depois, que o fato de as pessoas saberem desta falta de brasilidade da maioria do nosso povo tornar-se motivo de “pegadinhas”, quando, na realidade, o tal chefe deveria efetivamente exigir do então candidato à funcionário público que demonstrasse conhecer o Hino brasileiro, sob pena de não ser admitido no serviço público, pois em assim agindo estaria simplesmente cumprindo o que determina a Lei 5.700, de 01/09/1971, que diz no seu artigo 40 que “Ninguém poderá ser admitido no serviço público sem que demonstre conhecimento do Hino Nacional”.

Pois bem, tanto o chefe como o novel funcionário público, bem como os que eventualmente presenciaram a cena e que dela fizeram chacota, estavam todos errados, sendo que os primeiros inclusive infringiram a legislação pátria, o que os torna faltosos e sujeitos a sanções administrativas.

Mas será que a culpa é só dos personagens dessa história? É claro que não. A culpa, sem querer jogar pedras só neles, é da grande maioria dos políticos brasileiros, e, e principalmente, das suas assessorias, notadamente da área educacional, bem como da maioria daqueles particulares que receberam autorização do Estado para abrirem escolas de 1° e 2° graus, que deveriam saber que a mesma norma legal atrás referida determina, no seu artigo 39 que “É obrigatório o ensino do desenho e do significado da Bandeira Nacional, bem como do canto e da interpretação da letra do Hino Nacional em todos os estabelecimentos de ensino, públicos ou particulares, dos primeiro e segundo graus”.

Mas quem fiscaliza o cumprimento da Lei? Será que o aprender a cantar o Hino Nacional não minimizaria essa falta de brasilidade que a todos acometem? É mesmo importante saber o Hino Nacional Brasileiro? Você não sente uma certa emoção ao cantá-lo, mesmo que a Seleção de Futebol não esteja prestes a iniciar mais uma partida? Por que o Ministério da Educação, as Secretarias Estaduais e as Municipais não exigem o cumprimento da Lei? Seria a tão alardeada impunidade? Será que os próprios titulares desses órgão públicos saberiam cantar o Hino brasileiro?

Há mais de 30 anos, quando ainda solteiro, meu Pai perguntou-me: em ordem decrescente, quais seriam as três ou quatro coisas mais importantes na minha vida? Lembro-me que à época respondi: 1) Deus; 2) família; 3) dinheiro e 4) saúde. Ele fez a mesma pergunta a outras pessoas da minha família e todas responderam de maneira quase igual, quando, então, nos dirigimos a ele e devolvemos a indagação, e o mesmo assim respondeu: 1) Deus; 2) Pátria; 3) família e assim por diante, ou seja, a Pátria, afora o Ser Supremo, que está acima de tudo e de todos, era, e creio que deveria ser assim entendido por todos, o que agora já o compreendo, deve estar acima até da família, pois é nela, dentre outros argumentos de peso, que a mesma habita. Ao assim responder, meu Pai deu mostras do quão brasileiro ele era, e que, inclusive, tinha a virtude, além de milhares de outras, de saber não só cantar o Hino Nacional, mas também declamá-lo, o que, convenhamos, é bem mais difícil. Faça um teste e verá.

Fonte: Escritório Online


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