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Escritório Online :: Artigos » Ensaios, Crônicas e Opiniões


A Coragem como virtude cardeal na classe universitária no Brasil

05/10/2003
 
Vidal Sunción Infante



INTRODUÇÃO

Em todas as civilizações de que se tem notícia, a coragem tem sido apontada como virtude fundamental ao homem. Platão a enumera entre as quatro virtudes, mais tar-de denominadas de cardeais, e Aristóteles, em sua concepção moral, a distingue como uma das virtudes éticas. Platão, em “A República” (IV, 430 a - e), quando trata da educação dos que devem governar, a define como “a opinião reta e conforme a lei sobre o que se deve e sobre o que não se deve temer”, pois concebia a coragem como edificadora do caráter do homem público, propiciando-lhe opiniões acuradas perante a sociedade a que serve. Para Platão, é por meio da educação que se con-serva a coragem, mesmo diante de todas as vicissitudes, e se consegue manter uma opinião legítima do que se deve ou não recear, mesmo em meio aos desgostos, pra-zeres, desejos e temores. Aristóteles em “Ética a Nicomaco” (III, 1115, 6-35), define-a como o justo meio-termo em relação aos sentimentos de medo e temeridade. O trabalho é uma ação pela qual modificamos as coisas e a realidade de modo a con-seguir nossa preservação existencial numa sociedade politicamente organizada, a mesma que, de acordo com Aristóteles, é o berço da felicidade, mas esta só se con-segue através da Prudência (auriga virtutuum), a virtude que dirige as demais virtu-des morais. Este trabalho se propõe, como ponto de partida, a empreender uma re-flexão sobre a Coragem como virtude, e objetiva, em nível exploratório, verificar a importância que o cidadão brasileiro devota à Coragem na sua escala ordinal de vir-tudes e de valores dentre 38 variáveis selecionados.

METODOLOGIA

A pesquisa ora apresentada é do tipo exploratória, haja vista que se busca aumentar a compreensão da seguinte situação-problema: Qual é a posição hierárquica da Coragem como virtude moral numa escala ordinal do segmento universitário (estudantes universitários e graduados) no Nordeste do Brasil, dentre 38 valo-res e virtudes pré-selecionados? Para elucidar a questão em foco foi realizada uma pesquisa empírica, tomando uma amostra (328 indivíduos) intencional, aplican-do-se o instrumento de pesquisa em centros de estudo superiores sediados no Es-tado do Rio Grande do Norte e no Estado da Paraíba, bem como em entrevistas com profissionais atuantes nos diferentes segmentos da economia. A coleta dos dados foi realizada durante o ano 2002. O respondente deveria colocar em ordem hierár-quica, segundo sua percepção de importância, 38 variáveis e valores elencados no instrumento de pesquisa. No tratamento estatístico dos dados, foi utilizado o softwa-re SPSS, haja vista que foram envolvidas 80 variáveis, o que possibilitou realizar análises paramétricas e não paramétricas, segundo a natureza dos dados. A partir dessa análise, buscou-se gerar informações otimizadas que possibilitaram aumentar a compreensão da Coragem como virtude do cidadão brasileiro.

RESULTADOS

Nossa preocupação neste trabalho é o posicionamento da Coragem, como virtude, na percepção de importância na escala de hierarquia valorativa dos respondentes. Os resultados apontam que, na hierarquia por ordem de importância, a Coragem apresenta um desvio padrão de 9,14 e média de 20,9, isto é, que o posicionamento hierárquico desta variável se encontra diluída numa distribuição que se ajusta à cur-va normal teórica, o que, por um lado, se pode considerar coerente com o tipo intrín-seco da variável e, por outra via, indica que a qualidade da coragem varia com o tipo de educação e estrutura moral e ética do cidadão. Eis aí, talvez, uma das causas da amplitude da distribuição normal simétrica dos dados da pesquisa e a respectiva ex-pressão hierárquica. O desejável seria encontrar uma população com uma expres-são de coragem distribuída assimetricamente, como acontece na distribuição de renda nas nações do mundo (LEVIN, Jack, 1987) e não uma distribuição simétrica como é o caso dos dados da pesquisa ora analisados. Estes dados apontam preli-minarmente que necessário se faz envolver outras variáveis (virtudes) que possibili-tem compreender melhor a estrutura virtuosa do cidadão brasileiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados apontam que o segmento pesquisado não possui, em termos de Co-ragem, hierarquia que o caracterize como um povo possuidor de Coragem como uma forte virtude. Isto é relevante numa situação em que a hipercompetitividade tec-nológica não tem fronteiras, e o Brasil se situa como um dos países de maior reserva de matéria-prima não explorada, da maior biodiversidade do planeta, com a maior área de terra agricultável do mundo e a maior reserva de água doce do mundo (12.3%). Só com elevado padrão de educação é que se poderá fortalecer a Cora-gem como virtude importante no cidadão brasileiro, ensejando-lhe enveredar pela esteira do desenvolvimento sustentável e desenvolver o País em beneficio de todos os que aqui vivem. Esse resultado, por si só, aponta um abismo na estrutura virtuosa do cidadão brasileiro, o que se constitui num desafio para o Estado democrático e de direito, e que merece ser analisada em profundidade sob ótica multidisciplinar, vi-sando encontrar soluções convergentes para a reversão do quadro apontado nos resultados. Em “A República” Platão mostra que uma compreensão da coragem pressupõe uma compreensão do homem e de seu mundo, sua estrutura e seus valo-res. A questão ética da natureza da coragem conduz de forma inevitável à questão ontológica da natureza do ser, que, na conjuntura turbulenta das nações, merece ser revista e imbuída no cidadão em prol da defesa da pátria, pois a felicidade entre os homens, alerta Heródoto, “jamais permanece por longo tempo no mesmo sítio”.

Fonte: Escritório Online


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