O exercício continuado de elaboração das chamadas peças processuais - petições, contestações, réplicas, recursos etc; e por outro lado, a leitura de peças, doutrinas, artigos, etc - estimula a algumas observações.
Adiante, uma delas, extraída da própria vivência.
Ao perscrutar o início do trabalho na área jurídica, percebi que as primeiras redações, foram marcadas pelo entusiasmo, gerado na nova oportunidade de expressar num processo, o que havia aprendido em vários anos de teoria.
Tal ímpeto, produzia o fenômeno da prolixidade.
Daí, para cada caso, um fausto número de laudas, recheadas de termos técnicos e insólitos, cuidadosamente pinçados do repertório do Aurélio, a encadear um copioso arsenal de palavras, para vestir nem sempre muitas idéias.
De ver porém, que a experiência e reflexão, se encarregam de sacudir e depurar este estilo - que o eufemismo levaria a denominar de generoso e abundante - fazendo despregar o excesso, porque revelam a grande vantagem que lhe sobrepõe a síntese - compressora das palavras vazias.
Isto ocorre, a partir de quando se abdique do deleite proporcionado pela rima, sonoridade e jogo de palavras - em detrimento do conteúdo e da clareza - e da obrigação sentida de reproduzir tanta coisa teórica depositada no recipiente mental, durante a graduação.
E especialmente, ao pensar sobre os efeitos do escrito, no destinatário.
Notório nos dias atuais, que juízes, promotores, advogados, serventuários, todos vivem o drama do tempo. O trabalho se avoluma, as informações também, os prazos pressionam. E o consumidor da justiça, aprende a cada dia, a exigir não só os direitos postos na confiança do judiciário, mas também celeridade.
Isto modificou o valor dos extensos arrazoados, de perorações infindáveis típicas de uma época remota em que nada açodava, os dias eram longos. Os extensos trabalhos, foram relegados à categoria de indesejáveis. Ao trono, içado pelos novos tempos, a síntese do direito e justiça, veiculada em forma objetiva, simples e despojada.
Curioso é que o estilo pomposo ou hermético, além de dispendioso, pode até prejudicar seu patrocinador, porque a idéia, a substância, costuma se perder ou se ocultar em meio ao turbilhão de palavras.
Conveniente assim, o esforço de dizer mais por menos. A analogia com a pecúnia, vem a calhar. Tal como ocorre com as palavras, o grande volume disponível de cédulas, está proporcionalmente ligado ao seu pouco valor, e vice-versa.
O problema da verborragia se detecta dês da escolha do material de estudo.
A exemplo, o caso de um novel advogado, que se encantou ao encontrar na livraria uma obra famosa, cujo título anunciava tratar de único instituto. Como o assunto específico ajustava-se num caso concreto no qual trabalhava, não titubeou em arrematar o portentoso livro de 800 folhas, impressas em letras miúdas.
Pôs-se alegre e avidamente a estudá-lo.
Após quatro dias de elucubrações sobre o livro, resolveu se perguntar: O que significava, ao menos em parte, o tema estudado? O que havia entendido até aquele momento? Não poderia responder. Havia se perdido no denso cipoal de palavras, não encontrando de jeito algum, a essência do instituto.
Por felicidade, desta vez não precisou chamar pelo serviço emergencial de resgate de pessoas perdidas, porque o livro foi devolvido rapidamente para a estante, antes que seu dono se embrenhasse irremediavelmente naquela floresta verbal.
Fonte: Escritório Online
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